GUINCHO
Esse lugar mágico, com vida própria, onde o meu coração bate descompassadamente. Onde se faz sentir a vibração do eixo do tempo, onde tudo se dilui na cegueira lenta de querer reconhecer naquele mar os veleiros que inventámos para a travessia dos nossos sonhos.
Ali, naquele lugar, onde o homem bebe àgua directamente do umbigo da terra, tudo se sente no momento certo mas perdem-se as palavras.
Por vezes, ali, naquele lugar, o dia irrompe... estranho, louco, perdido e sem ninguém à espera, naúfrago desta comédia humana que profere palavras dificeis a que atribuimos um valor, normalmente, entre os vinte e os cinquenta cêntimos.
Ao longe... quase na linha do horizonte, em direcção aquele astro, vejo, ainda que indefinidamente, uma urna de ouro sobre as vagas que já abraçaram esta costa um dia, e com a sua ira delinearam a paisagem.
A minha fome por estes dias tem estranhos caprichos. Muitas vezes só me aparece depois de comer, e hoje ainda não me apareceu em todo o dia. Talvez porque chegou mais uma vez a hora... esta mesma hora de "postar" naquela urna de ouro, que navega, tal como um veleiro em cima daquele lençol de espuma, as minhas razões de viver.
As minhas razões de viver... essas... também as vejo levadas em urna de ouro...
No mar da vida... uma por uma...
OLHA... sim, tu ai. Dá-me de comer e beber... é que me esqueci de o fazer o dia todo.
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