sexta-feira, abril 08, 2005

A MANSÃO

Na mansão deserta vibram os móveis levantando o pó incrustado. Tecem-se mais mansões dentro desta casa deserta - só vento frio, pó e noite, muita noite abandonada com vidros partidos espalhados num chão que não existe.
Numa noite de chuva qualquer a água escorreria pelos vidros, porem hoje estão secos e quebram-se sem força como se se vingassem da justa espessura necessária para protegerem do vento.
No mundo tudo se procura. Tempos, vidas, lugares... por vezes encontram-se e quando não produzem-se. Tudo se cria e tudo se destrói com a mesma velocidade. Dissolvem-se as leis primárias. Esquecem-se os significados. Criam-se espaços amplos de liberdades secas, tal como as paixões que dissolvem a água queimando o corpo e deixando apenas o pó. Lembrando que tudo se reduz à abstracção.
Em horas tenta-se encontrar a essência divina. Esse liquido denso. Esse mel intemporal. Essa transcendência por detrás das pessoas; das vidas dissolvidas na chuva que teima em não cair. Tenta-se mostrar como se cria do nada apenas bebendo esse mel sagrado.
No fundo a realidade é sempre tão básica... amores frustrados e uma chuva que teima em não cair.
Hoje nesta mansão encontrou-se:
A vida angustiada e fugaz.
A calma inerte.
O vento repetitivo, tão monótono e corrupto.
A paz abandonada.
Alguém que se suicida porque lhe disseram que não estava a respirar.
Como se suicidou?
Cortou os pulsos e sangrou o sonho até à morte.

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