sábado, janeiro 10, 2004

HORAS E MINUTOS QUE MARCAM A NOSSA VIDA!!!

Antes de sair, olhei para este relógio e disse que voltava no início da noite. Eu não me perguntei a que horas voltava. Disse apenas que voltava no início da noite. Eu estava a ler, sabia que ia sair, esperava que saisse e não olhei para o relógio. Tinha acordado ás duas da tarde. Tinha comido. Eram três da tarde. Olhei-me quando aproximei o meu rosto do espelho, os meus lábios, para me beijar. Não me olhei quando saí mas, agora, consigo imaginar a porta depois de a ter fechado, os meus passos a desaparecerem nos degraus da escada e, depois o silêncio sem mim. Consigo até imaginar-me na rua. As minhas mãos sobre aquele livro que comprei, os meus passos. Talvez me tenha imaginado durante alguns instantes depois de sair. No entanto, se o fiz, essas imagens misturam-se com aquilo que lia e com a certeza de sair e de ter de aprender a estar sem mim durante algumas horas. Demorei meia hora até olhar para o relógio, este relógio, o mesmo para onde olhei antes de sair quando disse que voltava no início da noite. Tinha passado meia hora e, por isso, continuei a ler. Tentei não pensar que faltava mais de dez vezes o tamanho daquele tempo que passei sem mim até me ver de novo. Continuei a ler. A minha atenção entrava dentro das palavras, mas voltava sempre para mim. Continuava a ler, mas eu estava no fim de cada parágrafo, escondido entre as frases, no momento de virar uma página. Tentei não olhar para o relógio. Olhei para o relógio e eram cinco horas, eram cinco e dez, eram cinco e vinte. Ás cinco e meia pousei o livro e olhei. Fiquei sentado neste sofá, nesta sala e tu chamaste-me. São cinco e quarenta e dois.
Ao Longo de um dia quinze mil movimentos definem os lábios de qualquer um. Mas bastou apenas um movimento, ontem, naquele final de tarde insipído, depois de tantos anos, exactamente ás cinco e quarenta e dois, quando te encontraste diante a porta da minha alma e onde os meus olhos viram a mulher que és hoje e a criança que foste outrora, para me fazer vacilar. A minha mente abstraiu-se de todos os pensamentos rotineiros que se limitavam a movimentar-se naquela altura, de forma caótica e incoerente. Todos os medos, todas as dúvidas, inibições, tensões, fraquezas ficaram esquecidas, surgindo e tranformando totalmente, naquele mesmo minuto (quarenta e dois), daquela mesma hora (cinco) em que segurava o livro na minha mão, a minha vida, aquilo que posso definir como sendo um momento de felicidade pura por ter-te reencontrado, sentindo-me bem e em união com o mundo à minha volta.

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