O SUBMUNDO DA FANTASIA!!!
Imaginem que estão a escrever um livro e se apaixonam pela vossa personagem principal. O que fazem?!?
Comecei por criar uma base de apoio para a escrita de um livro. Arranjei assim uma tela para esboçar o que me vagueava pela cabeça. Como o budismo aconselha, só em relação ao dia de hoje é que podemos agir. O de ontem e o de amanhã pertencem a tempos que já não são dados ou ainda não foram. Tentei afastar-me desta premissa, não por duvidar dela, mas porque me apetece, e criei dentro daquela tela um mundo com uma personagem principal.
Virei para Oeste. Lembro aquela sala de aula. Permaneces lá desde sempre a sorrir, com covinhas nas bochechas, carrapitos presos por ganchos em forma de caricas e bibe aos quadrados. Subir um lance de escadas. Ver alguém lá em cima que de repente esboça um sorriso. Olhar por uma janela e ver-me naquele barco, a remos, no meio do lago. Estou deitado no barco a olhar o crepúsculo. Vejo as primeiras estrelas. Tento encontrar o nome da minha personagem principal no céu. Vejo as primeiras luzes da noite reflectidas nas margens do lago. As primeiras árvores despidas das folhas do Outono. Uma luz que vem de dentro de uma concha no fundo do lago. Um coração, de cor indefinida, desenhado numa folha de papel, dentro daquela casa, por detrás de um aquário cheio de peixes coloridos. O vislumbre de uma orquídea vermelha nas areias da margem do lago. O pincel e as tintas que pintaram este cenário. O umbigo da tua barriga. E um quadro com traços de um artista que não consigo identificar.
Por vezes apetece-me dar início à escrita do livro com base no cenário pintado nesta tela, onde tu, personagem principal, me começasses por perguntar se eu queria que tu ficasses comigo naquele barco. Ouvir dizer-te que bastava sentares-te, ali ao meu lado, tirares o chapéu e o cachecol, cruzares os braços e esperares vinte minutos para perderes o avião.
Ás vezes também me apetece perguntar-te se o farias. Pensar que seria de um romantismo poético perderes esse mesmo avião pela sugestão de um facto, menos de um facto, uma ideia, menos de uma ideia, um pressentimento... Mas pelo menos ter-te visto ficar... mesmo assim... naquele barco, e conversar contigo, debaixo das estrelas, até nascer o sol.
O amor deve ser realmente uma longa e bela conversa entre duas pessoas, em que o tempo e o espaço perdem o seu verdadeiro sentido, residindo aqui o segredo da escolha da pessoa ideal.
Eu não sei o que acontece a um escritor que se apaixone pela personagem principal do seu livro. Só sei que se me acontecesse isso, depois de conhecer tal criatura assaltava-me a ideia de nada na natureza poder ter um nome e que não existimos só por existir, mas também essa existência não poderia ser chamada por um nome específico.
É para ai que me dirijo a partir de agora. São as minhas últimas palavras hoje aqui. Interpretem-nas como quiserem.
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