terça-feira, janeiro 27, 2004

TRAÇOS

Desejo adornos de pureza.
Torneados simples e directos de uma virgindade de gelo.
O barulho fica do lado de fora da porta.
Todas as preocupações estão penduradas num cabide.
Todo o sentimento é relanceado por um silencio profundo.
A queda de um império de cartas sufoca sob uma imparcialidade seca.
É difícil sentir um bocadinho de noite confortável - em calor delicado (que não incomode)
Controlo uma mente com uma palavra que se relaciona num turbilhão de luz de mel.
À minha frente uma mulher de aço sem olhos.
Não falo. Não oiço. Não vejo. Não sinto. Não sou.
Das paredes emergem loucos que bailam com olhos devoradores que consomem a carne.
O sal do mar percorre-me as veias.
Nunca se soube se é belo o cantar das sereias.
Continua a chover.
As palavras libertam os monstros das paredes e o canto das sereias permanece inaudível.
O chão esta coberto de água onde nascem flores de pedra... delicadas e frias.
Sinto um calor absurdo de febre e sal.
Sinto o desejo, repentino, de me metamorfosear.
Quero gritar também.
A chuva bate em vidros que cortam e não me pertencem.
Suspendo lembranças mortas e rasgo pedaços de memória.

Numa semana do tempo
a pagina em branco
com apenas um desenho - traços

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