ARTES DE PALCO
Gostava de poder jurar que não vou deixar-te cair. Que estarei sempre aqui, ao teu lado, com a simplicidade de uma mão que se entrelaça cega na outra mão. E fazer ressoar as palmas mesmo quando estiveres só... e só tu. Doa a quem doer. Ainda que seja só a mim, que me dói fundo ver-te naufragar nas palavras que saem más porque o vinho é mau. Sente: a volta que demos, o arco que desenhamos. Agora sou eu que te falo de pé. Agora sou eu que abraço o teu corpo e te chamo amiga porque finalmente te achei. Agora sou eu que te seguro e que lamento ver-te ferida, assim toda aberta, a pedires-me o corpo que queres manchar com o sal das tuas lágrimas. Que são as tuas pérolas. As tuas jóias. A tua luz, ou o que resta dela. Que és tu. Tu que desejas: tu mais eu.
Uma vida toda à espera. Chamavam-nos malucos, mas nós não ligávamos. Se eles soubessem como o mundo é pequeno, também teriam vindo. E agora estamos aqui. Livres. Nós e o vento. Somos grandes.
A beleza involuntária (a mais bela forma de arte é aquela que sai por engano), como se nascesse sem qualquer intenção por parte dos progenitores, não merece respeito nem admiração, e o ruído, proferido pela mesma, obriga-nos a seguir calados sem ouvir o nosso próprio silêncio. Fechemo-la numa concha, para que possa ouvir ao longe a ressaca de um universo hostil e para descansarmos os nossos ouvidos de discursos inúteis e palavras vãs. Não parece grande coisa nós sabemos. Mas aqui, no silêncio reconquistado que vêem, no tempo que é tudo, é só onde queremos estar. E isso basta-nos.
Não vale a pena sermos fortes se a única direcção da nossa força é voltada para fora. Lutemos por uma vida vivida à escala grandiosa do risco.
Som...
Luz...
7 Pancadas...
ACÇÃO.
Não, não sou eu. É apenas uma parte de mim que fugiu sem me avisar.
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