terça-feira, março 23, 2004

O NOME DO PRAZER

Falar do caminho para o prazer, mas não transmitir o prazer em si mesmo.
Falar de um nome e com ele mostrar um passado, um presente e um futuro, mas não encarna-lo.
O prazer é uma coincidência definitiva entre um estado físico e um estado mental, uma certa organização de um sistema nervoso particular.
Um nome é uma manifestação de sangue novo à nascença que pode ser rasurado e silenciado.
Fazer dançar o prazer obriga-nos à elaboração de uma fantasia esplendorosa que obedeça e se enquadre numa coreografia.
Fazer soar um nome basta pronuncia-lo.
É bom chegar à boca de cena e sentir que o humor faz tanta falta ao drama como o drama faz falta ao humor. Dar meia dúzia de passos no palco e encarar o público sem estar agarrado a um passado que não temos. Acabar o espectáculo, sair para a rua, beber a luz da cidade e eternizar este acontecimento. Inalar o cheiro desta mesma cidade e nunca mais lá voltar, mas, ainda assim, saber que fazemos parte dela. Lembrar aquele acto, aquele público, para apenas sentir que o coração já não bate da mesma maneira. Recordar o prazer e o desejo, podendo estes serem exercidos como demonstrações de poder ou, perdas de controlo, um teste a limites e limitações, ou uma descoberta dos limites dos afectos definidos pelas limitações do espectáculo em si. Recordar um nome e dele apenas sentir redundância, incoerência e rotinas enviadas numa miríade de direcções, tornando-o impossível de localizar, mas que algum pormenor do tempo se encarregou de transformar em agressão.

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