segunda-feira, fevereiro 02, 2009

ZARPAR EM DIRECÇÃO AO PÔR-DO-SOL



Sair. Correr para apanhar o primeiro avião. Fazer o chek-in e dirigir-me à manga. Entrar. Sentar-me e apertar o cinto. Levantar voo. Aterrar. Dirigir-me à orla marítima.

Á noite o vento quente traz-me sinais de daiquiri, margaritas e tangentes à moral adivinhando-se, pelo marulhar contra o casco, a vontade que o mar tem de mim, reiterando-me pelas minhas noites agitadas a vontade que eu tenho dele.
Mergulho à procura de uma dimensão táctil entre a agua e o ar ensimesmados na doce ilusão de paridade com o oceano. Não há como resistir, é um oceano ímpio que me dilui até à vontade de voltar à civilização.
O que mais me arrepia é o inesperado de perder todas as referencias que me habituei a ter de terra, mesmo com terra à vista. Não é que importe que terra não narra este texto, prefiro narrar os abismos que descem secretamente a milhares de metros de profundidade.
Em nenhum outro ponto do nosso planeta o contraste entre a vida e a morte se apresenta tão perfeitamente separado pela simplicidade da película que separa o mundo do ar do mundo do mar. A dimensão que temos do mar é enquadrada pelo chão que pisamos e à falta deste torna-se inevitável redimensionar-se a coisa. Quem ponha o ouvido no chão detecta instantaneamente uma vida subterrânea, misteriosa e irresistivelmente obscura.
Por mais voltas que dê, não há volta a dar-lhe. Não são precisas histórias de piratas ou naufrágios. Está tudo aqui espalhado pelos fundos de águas límpidas.
E o atlântico aqui é perigoso. Diverte-se a fingir que é indico ou pacifico mas não o é.

À vista desarmada, dos deuses egípcios só Ra – o deus do sol – sobreviveu à tempestade perfeita do desenrolar do tempo milenar.

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