sexta-feira, fevereiro 20, 2004

ARTES DE PALCO

Gostava de poder jurar que não vou deixar-te cair. Que estarei sempre aqui, ao teu lado, com a simplicidade de uma mão que se entrelaça cega na outra mão. E fazer ressoar as palmas mesmo quando estiveres só... e só tu. Doa a quem doer. Ainda que seja só a mim, que me dói fundo ver-te naufragar nas palavras que saem más porque o vinho é mau. Sente: a volta que demos, o arco que desenhamos. Agora sou eu que te falo de pé. Agora sou eu que abraço o teu corpo e te chamo amiga porque finalmente te achei. Agora sou eu que te seguro e que lamento ver-te ferida, assim toda aberta, a pedires-me o corpo que queres manchar com o sal das tuas lágrimas. Que são as tuas pérolas. As tuas jóias. A tua luz, ou o que resta dela. Que és tu. Tu que desejas: tu mais eu.
Uma vida toda à espera. Chamavam-nos malucos, mas nós não ligávamos. Se eles soubessem como o mundo é pequeno, também teriam vindo. E agora estamos aqui. Livres. Nós e o vento. Somos grandes.
A beleza involuntária (a mais bela forma de arte é aquela que sai por engano), como se nascesse sem qualquer intenção por parte dos progenitores, não merece respeito nem admiração, e o ruído, proferido pela mesma, obriga-nos a seguir calados sem ouvir o nosso próprio silêncio. Fechemo-la numa concha, para que possa ouvir ao longe a ressaca de um universo hostil e para descansarmos os nossos ouvidos de discursos inúteis e palavras vãs. Não parece grande coisa nós sabemos. Mas aqui, no silêncio reconquistado que vêem, no tempo que é tudo, é só onde queremos estar. E isso basta-nos.
Não vale a pena sermos fortes se a única direcção da nossa força é voltada para fora. Lutemos por uma vida vivida à escala grandiosa do risco.
Som...
Luz...
7 Pancadas...
ACÇÃO.

Não, não sou eu. É apenas uma parte de mim que fugiu sem me avisar.

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

AQUELA MANHÃ NA PRAIA DO ANCÃO

Era terça-feira de manhã, fazia sol, um sol claro e quente. Desci pela estrada de terra batida, estacionei o carro e atravessei as dunas. Está tudo tão quieto. Não há ninguém na praia. Vejo gaivotas. Elas costumam andar aos pares, como se de casais se tratassem, dançando, rodopiando, fazendo piruetas e arriscando vôos mortais. Juras? Prometes? Só para mim?
Olho para o mar e penso onde nunca fui, como se precisasse de lançar um pé para fugir por ali adentro.
O tempo é lento e arrasto-o.
Dirijo-me de para o carro de novo e não olho para trás. Não quero olhar o mar - Dele diz-se que tem o olhar profundo e belo, o físico atlético e uma voz com um timbre impressionante.
Entro no carro e corro... corro como um louco atrás da promessa erótica de uns olhos recém descobertos.
As gaivotas?!? Essas vagueiam, tal como nós, mas livres, pelo mundo.

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

HISTÓRIAS DE UM FIM-DE-SEMANA

Há dias que acordamos ao mesmo tempo. E há dias que, como hoje, acordo antes de ti e fico a ver-te dormir. Levanto-me da cama devagar, tendo o cuidado de não te destapar. Afasto os cortinados pesados, e deixo que a luz rasgue, através das enormes janelas, o nosso espaço. Tu nem a sentes, mas agrada-te o bater do sol no rosto - Sei-o pelo gesto que fizeste e pelo sorriso que esboçaste. Continuas a dormir.
Deito-me na chaise longue do nosso quarto com vista panorâmica sobre o oceano Atlântico e a cama e fico, apenas, a ver-te dormir. Esse é o tamanho da minha ternura.
O Farol Design Hotel, em cascais, revelou-se uma óptima escolha. Acendo uma cigarrilha - em jejum, lembrando-me o quão bom é fumar sem ter nada no estômago - e começo a escrever algumas destas linhas absorvido pelas tranquilas e transparentes águas.
Roma é sinónimo de paixão. É amor escrito ao contrário. É luz. É história. É arte. É eterna. Mas Cascais, visto daqui, é isso e muito mais. A elegância e a delicatesse de touche são a sua mais valia a somar a tudo o resto.
O teu corpo está à distancia de vê-lo por inteiro. Relembro a noite de ontem. Depois de virmos do jantar beijamo-nos e fizemos amor. Adormecemos sobre o campo de batalha que os nossos corpos elegeram para elevar este sentimento àquele grau de paixão angélica, àquele grau de entusiasmo que tão rara vez aparece na terra... adormecemos... a ouvir o barulho do mar.
Acordas e sorris. Dizes-me que não tenho uma existência real... que sou uma criatura imaginaria. Dizes-me que gostas quando eu gosto. Confessaste-me honestamente quem és e que se tais sentimentos tão excessivos não me agradassem... poderia matar-te. Disseste-me que levarias uma sinistra saudade de mim. Que irias doente e triste como nunca, porque notaste em mim, um brilho nos olhos; uma expressão singular; uma espécie de prudência no meu olhar.
Eu não respondo. O meu olhar permanece imutável com ligeiros tons de enternecimento.
Pedimos o pequeno almoço para o quarto. Falamos de coisas que são importantes para nós. Dizes-me que vais escrever uma carta... não... uma não... que a tua vontade é empregar todo o teu tempo a escrever-me só para teres o prazer de receber as minhas respostas. Disseste-me ainda que todas as tuas cartas iriam conter o mesmo Post Scriptum - Il faut me dire si vous m`aimez un peu - e que o teu maior medo era que o carteiro nunca te trouxesse, a resposta, na ponta dos dedos.

Não há cegueira de amor. Não há o que se chama ilusões. Não há dessas visões que tão belas são e tanto menos duram, e não deixam por fim, senão, à triste realidade de todos os desejos, de todas as paixões terrestres, a saciedade, o fastio, sucedendo à ânsia do apetite.

E o carteiro não a trouxe na ponta dos dedos.
E o meu coração pede-me a gritos para voltar àquele quarto de hotel...

Domingo, 15 de Fevereiro de 2004

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

PEQUENO ALMOÇO

... acordo e decido tomar o pequeno almoço no jardim.
O dia está lindo. O sol aquece-me o sangue em calor qb.
A acompanhar o leite e o sumo de laranja, este ultimo colhido da árvore deste jardim, deliciosos scones com doce ou manteiga, pequenos pãezinhos com passas, ou ainda, bolinhos com recheio de Kiwi.
Do lado esquerdo do jardim há um forno de lenha a mostrar fortes sinais de longevidade ao cozer o pão e os bolos que me são levados hoje à mesa do pequeno almoço.
Por detrás de mim, aproximas-te, acaricias-me os ombros nus e beijas-me no pescoço, tocando neste meu corpo que serve de prisão à minha alma pelos erros que esta cometeu anteriormente.
Sentas-te comigo à mesa do jardim, ainda meio ensonada e espreguiças-te como um bébé grande... tornando este momento irrepetível...

terça-feira, fevereiro 10, 2004

PARA VISITAR A DOIS...

Presentes de Inverno.
Montanhas de neve.
Paisagens inesqueciveis.
Passeios ao ar livre.
Aldeias abandonadas.
Desafios naturais.
Retractos esculpidos.
Cenários idílicos com colinas de altas árvores.
Do dia para a noite... entre sonhos e sorrisos... para visitar a dois...

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

AURORA BOREAL

Iluminadas pelo farol da ilha vejo ondas desfazerem-se de encontro ás rochas. Vejo gaivotas a voar entre as copas das palmeiras, que parecem murmurar canções do mar. Vejo nuvens luminosas, douradas e brancas, com longas caudas que iluminam os cumes das montanhas deste bocado de terra.
A noite vista do ponto mais alto desta ilha tem um sabor formidável. Mas a luz daquelas nuvens... essa luz... essa tem sabor amargo. Tem sabor dos reflexos de bater de asas de um cisne encurralado no gelo polar, tentando desesperadamente libertar-se.
(Amanha se o sol nascer em tons de vermelho é sinal que se derramou sangue durante a noite).
O ambiente idílico e de genuíno prazer... esse... esse permanece imutável.

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

NÓS

Uma parte menos saudável da infeliz herança romântica e irracionalista, tantas vezes acríticamente admitida sem discussão, é a oposição entre a razão e a emoção.
Tenho duvidas que não mantenham esta opinião no actual cenário, em que alguns conservam uma voz determinada e outros a perdem por completo.
A ideia de que a feminidade é a arma mais poderosa que uma mulher pode ter, leva-nos a cortar vestidos imaginários que assentam subtilmente em corpos, antecipando-os e dando-lhes ênfase aos movimentos, acariciando-lhes os contornos.
Concebidos para prolongar até ao infinito um encontro de duas vidas, abandonamo-nos a um caminho pouco percorrido, que não se aprende nos livros, e que nos transcende, largamente, em variedade e na natureza das relações com os nossos mundos periféricos.
Zangarmo-nos é fácil. Mas faze-lo com a pessoa certa, na justa medida, no momento certo, pela razão e maneira certa... isso é mais difícil.

(Temos de falar um com o outro o mais que pudermos. Quando um de nós morrer, haverá coisas que o outro nunca mais vai poder falar com ninguém!)

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

UMA QUESTÃO DE DENSIDADE

Um acréscimo de massa nem sempre tão insignificante quanto isso, é objecto de apreciação, estando em risco de asfixiar o mais comum dos mortais. Reacções inflamadas vieram acentuar clivagens que se arrastam à muito tempo.
O estigma de associar o viver só à solidão permanece, alimentando a destruição de impérios emocionais, contribuindo a existência das palavras para complementar os movimentos.
Escravo do que digo e senhor do que calo, sinto-me rodeado de samurais de ocasião. Tal como eles utilizo a justiça da espada... apoderando-me das cabeças dos meus inimigos como trofeus...

Cínicos... Falsos... estão mortos e eu riu-me de vocês!!!

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

ACTORES PORTÁTEIS

Deambulam pelas ruas, actores portáteis, cansados das narrativas sónicas deste espaço urbano. Tentam separar o essencial do acessório e exigir celeridade e responsabilidades aos que detêm as rédeas.
É a época das banalidades e dos lugares comuns por excelência. Dizem que o pior já passou e que o positivismo vai marcar este novo ano... temos direito à esperança e transformemos a mesma em realidade... ordena quem pode.
Há muito que aprendi que os parabéns, prémios e reconhecimentos são, geralmente, um modo de cuidar de quem os dá e não de quem os recebe.
Gostava, por isso, encontrar uma solução para a seguinte equação: Como é que um terráqueo do séc. XXI pode ser tão inteligente e tão estúpido, tão problematizador e tão simplista, tão crente e tão ateu, tão sábio e tão ignorante, tão tudo e tão nada.... e tudo ás vezes na mesma pessoa e ao mesmo tempo?!?

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

J`AI BAISÉ TA BOUCHE

Num buraco temporal, procuro o equilíbrio entre o corpo e a mente.
Numa fatia adjacente à cidade, anestesiado pela longa e repetitiva sucessão que todos os dias passa à mesma hora, esqueço o significado e a vida daqueles que justificam o meu mundo.
Procuro no espelho inconstante da superfície do oceano uma cara ou um nome, uma vida anónima e sem razão, com a razão da avidez e desejo veemente, mas também com ânsia e impaciência. Foi possuído pelo estado desta ultima que vislumbro a alma de alguém (e se calhar nem é a minha). Beijei a boca dessa alma porque me é natural a luz das coisas transcendentes.
Beijei-te!!!
Doeu-me sentir que estava a trair-te. A luz era tão humana, quase tão pouco eu... eu a trair-te. Ninguém disse que seria fácil ouvir o eco de um búzio. Esse som em espiral até ao inicio dos tempos.
A subtil disciplina cristaliza os instantes, estrutura fragilidades e aos poucos procuro fluir na realidade, libertando-me de quaisquer masoquismos mortais, invejos e vingativos.
Quero idealizar qualquer coisa... segurar qualquer coisa... guardar esta ternura envolta em mansidão. A dádiva que a alma de alguém, sem saber, me concedeu.

Sabes quanto pesa a lágrima de um anjo?
Não?
Eu respondo: Dor, desapontamento, amor, solidão, angústia, luto, orgulho, felicidade e saudade.

De nada para parte nenhuma..........

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